Especialistas dizem que a automedicação é um dos principais responsáveis pelos altos índices de intoxicação.
Para dor de cabeça, no corpo, gripe, resfriados, estômago, mal estar em geral, o que não faltam são remédios na “farmacinha” do William. Com medo de passar por algum problema de saúde, o jovem de 34 anos não abre mão de ter por perto os medicamentos que, segundo ele, ajudam num momento de urgência.
Eu tenho medicamento de tudo quanto é tipo em casa e ainda levo uma bolsinha para o trabalho. Se alguém precisar, é só pedir.
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O Wilson Freitas Júnior trabalha como cozinheiro, e diz que não tem medo de se automedicar. Ele fala que herdou a atitude da avó com quem foi criado, dona Lourdes Freitas Benites, de 92 anos. “Sempre que precisava de um remedinho ela usava, nunca deu nada, então aprendi. Eu tenho medicamento de tudo quanto é tipo em casa e ainda levo uma bolsinha para o trabalho. Se alguém precisar, é só pedir”, descreve.
Só que essa atitude de se automedicar já fez o jovem passar sufoco. Ele não sabia que era alérgico a uma medicação e certa vez chegou em casa com dor e resolveu tomar, dez minutos depois começou a passar mal. Segundo ele, teve uma reação alérgica a medicação, por causa disso foi parar no hospital.
Para evitar que situações como essa aconteçam foi criado o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos. A data é celebrada todo dia 5 de maio e tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre a importância de utilizar os medicamentos de forma adequada e responsável, a fim de evitar a automedicação.
Além disso, segundo o Ministério da Saúde, a data também ressalta o papel do uso indiscriminado de medicamentos e a automedicação como principais responsáveis pelos altos índices de intoxicação. Um levantamento feito em 2022 pelo ICTQ (Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico) sobre a automedicação revela que 89% dos brasileiros usam medicamentos sem orientação médica.
Desde 2014, ano em que a coleta de informações começou a ser realizada, nesses oito anos o ICTQ identificou que 76% da população declarava se automedicar sem qualquer reserva. Em 2016, esse índice variou para 72%; em 2018 cresceu para 79%, e em 2020 subiu para 81%.
Os analgésicos lideram o ranking dos principais medicamentos usados por conta própria: 64%, na sequência os antigripais: 47% e por fim, os relaxantes musculares: 35%. Sintomas como ansiedade, estresse e insônia também são motivos para automedicação em, pelo menos, 6% da população.
Embora a automedicação pareça simplificar a resolução de um problema, essa prática pode prejudicar a saúde de um indivíduo, afirmam especialistas em saúde. De acordo com Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), no Brasil, são registrados mais de 30 mil casos de internação por intoxicação medicamentosa. Estima-se que 20 mil pessoas morrem em função dessa atitude anualmente.
Automedicação
A automedicação é tão grave, que se tornou um problema de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a OMS metade de todos os pacientes no mundo utilizam medicamentos incorretamente e sem receita médica.
Além disso, o uso indiscriminado de medicamentos pode agravar outras doenças, como as cardiovasculares, por exemplo. Isso porque algumas fórmulas podem descontrolar a pressão arterial, fator de risco importante para o surgimento de um acidente vascular cerebral (AVC) ou mesmo o infarto.
As doenças cardiovasculares levam a óbito cerca de 400 mil pessoas no Brasil, por ano. São as enfermidades que mais matam fora do ambiente pandêmico imposto pela Covid-19 nos últimos dois anos.
Depois do susto, o Wilson aprendeu a lição e diz que só utiliza os remédios quando realmente são necessários, e usa apenas os conhecidos como analgésicos e antigripais. “Só uso um medicamento quando não tem mais jeito, quando a dor está intensa e mesmo assim, só tomo aqueles que já conheço”, finaliza.