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35% das salas de vacinação no país precisam ‘abandonar’ carteirinha de papel e adotar novo sistema digital

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2018-06-13 11:00:08

 

Registro em papel não pode ser a única forma de saber se uma pessoa tomou a vacina ou não, dizem Ministério da Saúde e especialistas.

Como o Brasil vai controlar, de fato, o avanço da febre amarela? Ou por que o sarampo, que tem vacina disponível no calendário de vacinação para todas as crianças há anos, também ressurgiu? As respostas para essas perguntas estão longe de serem simples, mas todas elas passam por um bom registro de vacinação – de preferência, digital – e pela capacidade do governo de saber exatamente quem tomou ou deixou de tomar a vacina.

Esses registros evitam os “bolsões” de não-vacinados; aquele grupo de pessoas sem defesas para o vírus que contribui para o retorno de doenças que já deveriam estar sob controle. Até 2018, 65% das salas de vacinação do país estão equipadas com um novo sistema de registro e o restante – 35% — estão em processo de implementação, informa ao G1 a coordenadora do Programa de Imunização do Ministério da Saúde, Carla Domingues.

Desenvolvido em 2010, o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI) permite acompanhar em tempo real como está o processo de imunização pelo Brasil inteiro e quais áreas precisam de reforço adicional de campanha. Mais ainda: ele permite o registro de quem exatamente tomou a vacina.

Desde o lançamento do programa, o governo tem lutado contra a dificuldade de instalação do sistema: em 2012, foi necessário uma portaria e um aporte de R$ 50,7 milhões para salas de imunização no país. Cada uma das 33.837 salas (dado de 2016) recebeu R$ 1.500 para se adaptar ao novo sistema.

O investimento melhorou a adesão das salas ao novo sistema. Em 2012, o número de salas que enviou algum dado pelo SIPNI era de 18%; número que aumentou para 57% em 2016. O Brasil, no entanto, está atrás de alguns países desenvolvidos. Em 1998, registros informatizados de imunização já estavam presentes em todos os estados americanos; no Reino Unido, os primeiros registros foram utilizados na década de 1970.

Com o sistema, a ideia é que todos os brasileiros consigam acessar seus dados de vacinação e que eles não estejam centralizados somente na caderneta de papel – com a possibilidade de recuperação dos dados.

“As pessoas com cadastro no sistema poderão ir a uma unidade de saúde e solicitar cópia da caderneta de vacinação”, diz Carla Domingues.

Afora a necesssidade do registro individual, de que cada brasileiro saiba exatamente que vacina tomou ou deixou de tomar, a pesquisadora Ana Paula Sayuri Sato, professora do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, ressalta que o registro de vacinas é de fundamental importância para o planejamento de ações de vacinação.

“O fato de não termos dados sobre imunização totalmente informatizados pode afetar, ao meu ver, a acurácia das informações que são utilizadas para embasar a tomada decisão de gestores, por exemplo, as coberturas vacinais” — Ana Paula Sayuri Sato.

Em metas da Organização Mundial da Saúde para 2020, todos os dados de vacinação devem ser digitalizados em nível nacional em sistemas acessados regularmente. No entanto, apesar da meta, a OMS calcula que 1 em cada dez crianças no mundo não tenha sido atingidas por nenhum programa de imunização em 2016.

Ainda de acordo com a entidade, 1,5 milhões de mortes poderiam ser evitadas globalmente todos os anos com políticas mais eficientes de imunização.

Vacinação contra febre amarela na Praça Mauá, em Santos (SP). Grande volume de dados também pode provocar atrasos nos registros.  (Foto: Solange Freitas/G1)

Vacinação contra febre amarela na Praça Mauá, em Santos (SP). Grande volume de dados também pode provocar atrasos nos registros. (Foto: Solange Freitas/G1)

A dificuldade da implementação no sistema em todo o território brasileiro, segundo o Ministério da Saúde, passa pela questão da gestão da imunização ser compartilhada entre diferentes governos.

“Importante salientar que a Constituição estabelece que a gestão do SUS é compartilhada entre união, estados e municípios”, diz Carla Domingues, do Ministério da Saúde.

Outras dificuldades incluem o fato de nem todas as salas de vacinação terem aderido ao programa, há problemas de infraestrutura para a transmissão dos dados, alguns estados não fazem o registro adequado (por nome, por exemplo), há dados duplicados e funcionários às vezes demoram para digitar os dados no sistema.

Serviço pioneiro no Brasil

Ao lado das dificuldades, há bons exemplos existentes há algumas décadas. É o caso do pioneiro Sistema Juarez, instalado em Araraquara, interior de São Paulo, em meados dos anos 1980. “Temos dados de vacinas de todas as crianças vacinadas aqui desde 1986”, diz o pediatra Walter Manso Figueiredo, diretor do Serviço Especial de Saúde de Araraquara (SESA) há 15 anos. “Quem está com 30 e poucos anos, consegue encontrar seu registro inteiro aqui”, completa.