Uma vacina contra HIV pode estar mais próxima do que parece. Uma droga parecida com o imunizante administrado anualmente pode ficar pronta no início da próxima década, segundo a indústria farmacêutica ViiV. As informações são da Folha de S. Paulo.
Mesmo que ainda não exista uma vacina para tratar o HIV, um vírus que pode causar aids, a profilaxia pré-exposição (PrEP) diminuiu consideravelmente as taxas de transmissão ao gerar proteção a pessoas expostas à doença.
Geralmente, as terapias de PrEP ocorrem pela ingestão diária de medicamentos orais ou após o sexo desprotegido. No entanto, esse possível novo medicamento para prevenção ao HIV poderia reduzir fortemente o peso sobre pacientes e autoridades de saúde globalmente.
Vacina contra HIV integra série de pesquisas da farmacêutica
A ViiV é uma empresa controlada pela GSK em parceria com a Pfizer, dos EUA, e a Shionogi, do Japão. A desenvolvedora de medicamentos e vacina contra o HIV impulsionou também uma pesquisa sobre o VH184, remédio antirretroviral e destinado ao bloqueio da ação da enzima integrasse, que insere o código genético do vírus da aids no DNA da célula hospedeira.
“Não posso dizer quando, mas não muito além do final desta década. Será possível, eu acredito. O VH184 demonstrou uma meia-vida muito longa em estudos pré-clínicos. Precisamos determinar se essa meia-vida muito longa se traduz em humanos”, afirmou Kimberly Smith, chefe de pesquisa e desenvolvimento da ViiV, ao Financial Times.
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ViiV mira medicamentos de ação prolongada
Medicamentos de ação prolongada são administrados por via intramuscular no máximo uma vez por mês, soltando substâncias químicas por um longo período de tempo.
A chefe do programa de HIV da Organização Mundial da Saúde (OMS), Meg Doherty, enfatizou que o assunto é empolgante, mas que deve haver a garantia de cobertura universal de baixo custo.
“Será importante continuar garantindo que esses tratamentos de prevenção e novas abordagens estejam disponíveis para todos, incluindo pessoas que vivem em países de baixa e média renda”, disse.
A empresa declarou a investidores no fim do mês anterior que aumentou sua projeção de crescimento de vendas para entre 6% e 8% entre 2021 e 2026. A aposta em medicamentos de ação prolongada combate o “abismo de patentes”, ou perda de exclusividade, de seu tratamento oral antirretroviral dolutegravir.
São mais dois medicamentos de ação prolongada com base no cabotegravir, também inibidor da integrasse, aprovados por reguladores. O cabenuva, para pacientes que contraíram o HIV, e o PrEP Apretude. Eles não são orais e são administrados mensalmente ou a cada dois meses.
Segundo Smith, as pessoas disseram que Apretude “é quase como uma vacina. Basicamente, você toma a dose e depois não precisa mais pensar nisso, ao contrário da necessidade de tomar algo todos os dias.” Ela aproveitou para comparar os medicamentos às vacinas anuais contra a gripe e a Covid-19.
PrEP de longa duração evolui crescendo nos EUA
A CEO da ViiV, Deborah Waterhouse, afirmou que houve forte adesão aos medicamentos de PrEP de longa duração nos Estados Unidos. Entretanto, a situação foi variada na União Europeia, mesmo com aprovação regulatória.
Embora alguns governos tenham mostrado interesse, muitos não fizeram pedidos pois já conseguiram controlar os casos de HIV com tratamentos orais com menos custos.
Ainda é irregular o acesso a medicamentos de ação prolongada em países pobres, onde há altas taxas de HIV, mesmo que haja assinatura de licenças para fabricação genérica. Por exemplo, a ONG Médicos sem Fronteiras recusou concordar com termo de confidencialidade sobre preços solicitados pela ViiV para acesso em Moçambique e outros países subdesenvolvidos.
A CEO ainda está procurando um meio-termo com a MSF para chegar a uma resolução.
“Será uma pena se houver uma repetição do que vemos agora com (PrEP de ação prolongada), onde pessoas na África, com maior carga de HIV, têm pouco acesso a ele para prevenção”, contou Doherty, da OMS.