Endividadas, as empresas têm recorrido a renegociação de débitos, além de recuperação judicial e extrajudicial, para tentar sobreviver.
O crédito corporativo no Brasil tem ficado cada vez mais inacessível devido ao juro alto e à desaceleração econômica.
Diante de um cenário de juro alto, desaceleração econômica, dificuldades no mercado internacional e crise na Lojas Americanas, o crédito corporativo no Brasil tem ficado cada vez mais inacessível.
A tendência, segundo analistas, é que as condições de crédito continuem difíceis pelo menos até o fim do ano, dificultando a operação das companhias brasileiras.
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Na semana passada, o Banco Central (BC) divulgou que a concessão de crédito para pessoas jurídicas foi de R$ 166 bilhões em fevereiro. Para o grupo financeiro mundial Goldman Sachs, é provável que esse cenário piore.
“Esperamos que as condições de crédito se tornem mais exigentes nos próximos meses devido ao alto nível de endividamento do consumidor, taxas elevadas, perspectiva de abrandamento da atividade real e o surgimento recente de várias situações de dificuldade de crédito corporativo”, diz relatório do banco.
Concessão de crédito
Apenas no primeiro bimestre deste ano, 195 empresas no País já pediram proteção na Justiça, um aumento de 60% na comparação com o mesmo período de 2022. É o número mais alto desde 2017, quando foram feitos 197 pedidos nos dois primeiros meses do ano, segundo dados da Serasa Experian.
O economista da Serasa, Luiz Rabi, afirma que o crédito ficou mais caro devido ao aumento da inadimplência e ao juro alto. Uma melhoria só seria possível com uma perspectiva de queda na inadimplência, o que não está no horizonte.
O sócio-diretor da Alvarez & Marsal, empresa que coordena a Recuperação Judicial da Americanas, Eduardo Seixas, trabalha com a hipótese de que os pedidos cresçam 50% neste ano. Se esse incremento se confirmar, 2023 terminará com cerca de 1.250 solicitações. Seria o maior número desde 2019, quando 1.417 companhias entraram com o pedido.
Renegociação de débitos
O volume, entretanto, seria 33% inferior ao de 2016, quando a crise econômica e o colapso de empresas envolvidas na Lava Jato fizeram com que 1.863 companhias pedissem recuperação na Justiça.
“A pandemia asfixiou as companhias. Elas conseguiram respirar na época porque receberam ajuda, mas, agora, com o juro lá em cima, está muito pesado”, diz o sócio da Alvarez&Marsal, empresa que também está atuando na renegociação de débitos da Amaro e da Petrópolis, além da reestruturação da Tok&Stok.
Seixas acrescenta que parte das dívidas que foram roladas durante a pandemia estão vencendo agora, justamente em um momento em que os juros estão mais altos. As empresas, no entanto, ainda não estão gerando caixa suficiente para quitar os débitos.
Spread bancário
Percebendo a falta de dinheiro nas companhias, bancos e gestoras elevaram também o spread (taxa referente à diferença entre o preço em que o banco capta recurso e o que cobra para emprestar esse recurso). De acordo com o BC, o spread para pessoas jurídicas passou de 10,7 pontos porcentuais em fevereiro do ano passado para 11,8 em fevereiro deste ano.
Para o sócio da Virtus BR, Douglas Bassi, o impacto da crise da Americanas no mercado de crédito foi grande e é um dos motivos que tem levado os bancos a dificultarem a concessão de crédito.
“A Americanas era ‘triple A’ (nota dada pelas agências de classificação de risco para as dívidas com menor risco de calote) e ficou insolvente de uma hora para outra. Isso está dificultando muito. Agora, todo mundo está olhando com mais afinco para as demonstrações financeiras. Aí é claro que o custo fica mais elevado.”
Bassi acrescenta que o custo está mais alto para empresas que estão com dificuldade de gerar caixa e que querem recursos para novos investimentos.
Sobrevivência
Segundo o sócio da boutique de crédito Multiplica Crédito Investimento, Mickael Paolucci, o custo médio do dinheiro para o empresário está entre 20% e 25% ao ano. Quando a Selic estava em torno de 2% e 4%, o custo de capital variava entre 10% e 15%.
Paolucci afirma, porém, que o crédito não está caro apenas no Brasil, mas em todo o mundo. “Com o juro aumentando fora do País, aumenta a competição pelo dinheiro do investidor”, diz. “As grandes empresas estão em um dilema entre pagar a dívida ou continuar a faturar. É questão de sobrevivência.”
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